24.8.10

rua

Saímos a rua, 9 crianças e eu. Propus a eles um exercício de escrita, de pesquisa, mapeamento, observação. Achei incrível a curiosidade com a qual ocuparam o espaço e o movimento coletivo que a movimentação de cada um gerou. Estabelecemos um percurso que ia da rua Maria José (ong) até a praça Dom Orione e uma vez nela, o estar na praça por um tempo de uma hora. 4 encontros ficaram fortes em mim: a relação das crianças com o pé de amora, a ocupação de um espaço público por crianças de 6 a 8 anos, a conversa com uma das mulheres responsáveis pela limpeza do local-nossa jardineira- e a ação com ar de aventura de Nicolas e Chiquinho recolhendo lixos da praça. Um outro fato me chamou bastante atenção: um grupo de pessoas vêm trabalhando (porque já os encontrei em meus percurssos em dias anteriores) nas escadarias da 13 de maio. Quando as crianças viram um homem pintado de branco com um espelho e algumas bexigas sobre a cabeça perguntaram: o que é? o que eles estão fazendo? Sugeri que perguntassem aos próprios. A resposta foi: fale com a nossa diretora de arte. Um dos homens deu uma maça comida para uma das crianças.

13.8.10

.......que outras camadas existem no que chamamos Bixiga?

movimentos da semana

Essa semana 2 movimentos estão claros: um relaciona-se a mudança do grupo de crianças. Permanecem Cleison e Dalila (que estão no trabalho desde o início) e entram mais 8 crianças. O grupo está heterogêneo e mais forte. Nosso primeiro encontro, que aconteceu na quarta dia 11 de agosto, começou com trabalho de corpo durante 45 minutos. Daí em diante deixei que os desdobramentos acontecessem. Passamos por vários processos e aqui destaco: Francisco dança todas as palavras que são ditas. As outras crianças estranham tamanha movimentação, querem que o corpo dele sossegue. Para Francisco! Você vai sair do projeto! (ameaçam). Eu, atenta aos movimento dele, logo percebo a conexão entre o que estamos falando (inventando uma história a partir de uma saída a rua) e o que ele está trazendo no corpo. Perfeito!, penso eu. Agora é trabalhar com o grupo um outro registro de corpo, diferente do registro tão insistente na educação (e na vida) que é o do controle corporal. Irmos experimentando as possibilidades de expressão e movimento, de corpo que ao perceber palavras, espaço, cheiros, se move. Também interessante a discussão/reflexão que emergiu das crianças sobre a diferença entre "real" e "inventado". Falavam da diferença entre a narrativa de Cleison sobre uma casa do bairro com porta cheia de sangue e a de Dalila para a mesma casa: uma porta com uma cruz e tinta vermelha escorrendo. Conversas a fio chegaram no INVENTAR como possibilidade de tornar qualquer história mais interessante. OBSERVAR e INVENTAR foram conceitos trabalhados nesse nosso encontro. O segundo movimento desta semana, que começa a se concretizar é o "estar na rua" (no Bela Vista) sem as crianças. Vivenciar a proposta que permeia o trabalho com as crianças, mas também sem elas. Como meu corpo se disponibiliza para estar? como percebe e se relaciona com o espaço da rua? Muito importante ( e alegre para mim ) a chegada de Di Ganzá (músico erudito e brincante) e de Michele (cantora, mãe e atriz) no trabalho. A partir de terça estaremos juntos a "ruar" como diz Sofia Neuparth.

6.8.10

ao que sempre continua...

Depois de um julho imenso retomamos o estar juntos. Tenho refletido sobre a INSISTÊNCIA e sobre o ESTAR num espaço. Ficar e ficar e ficar. Continuar. Estar num bairro, num lugar da cidade, no meu próprio corpo, estar com as crianças, elas estarem comigo no meio de tantas intermitências e descontinuidades que atravessam nosso trabalho. Como criar a continuidade no que por vezes se desfaz? Como tecer um fio através dos diferentes movimentos que surgem de mim, neles, no espaço? Essas questões me parecem falar um pouco da natureza deste trabalho que começou sem nome, sem uma proposta exata. três meses passados estão em mim os percursos pela Vila Itororó, algumas sensações corporais de quando adentrávamos espaços desconhecidos, e sobretudo a dureza do centro da cidade. Sinto uma urgência de encontrar mais corpo no estar na cidade, de não me encolher diante das faltas, mas sim insistir, escutar, estar lá, eu, as crianças e quem mais se dispuser a adentrar as ruas do Bela Vista.