8.10.10
pensar o não acontecimento (?)
Hoje foi um dia de trabalho no qual algo faltou. Não sei se a palavra é exatamente essa e isso de encontrar a palavra para algo é um exercício de deslocamento constante. Escrevo e sei que logo caminho um pouco mais no que se refere ao pensamento que pensa em mim. Sei, continuarei pesquisando, perguntando, percebendo cada dia e conectando e desconectando coisas, porque esse me parece o chão do trabalho com as crianças nesses momento: perceber o que se dá a cada dia de rua, no estar juntos e o que produzimos nesse processo. Hoje parece-me que algo não aconteceu e tento pensar isso fora da dicotomia bom/ruim. Tenho tentado pensar essas alternâncias de presença através de uma lógica do acontecimento; algo que se dá ou não, ali, naquele momento. Algo que acontece ou não. O nosso estar na rua hoje teve uma atmosfera que não alimenta o trabalho. Parece que algo estava fechado em si. Nós na rua como se não existisse rua, pessoas, céu, sons, coisas. Algo de não relação talvez, de não estabelecer conexões entre algo e algo. Tudo que falamos e fizemos remeteu ao que já existe, diferentemente de dias em que algo não tão evidente surge. Hoje as coisas que apareceram se desmancharam rapidamente, não continuaram...como uma matéria que surge e escapa, não conduz a outro e outro movimento e depois a outro...Percebo a diferença entre o estado de quase inércia de hoje, de seguir o que já está dado em relação a outros estados mais vivos/vibrantes, energizantes, criadores. Tento perceber que estado são esses, que diferenças guardam em si. Sinto em meu corpo a diferença entre eles. Sinto no espaço, na percepção do espaço e claro, no que produzimos naquele dia, seja um produto de gesto, de desenho, de palavras, fotografias, pensamentos e/ou tudo isso misturado. E aqui lembrei-me de algo que aconteceu essa semana, na aula de filosofia do Peter Pal. Estava eu, nesse dia, cansada, talvez um pouco flutuante. Nos ultimos minutos da aula algumas palavras me atingiram completamente (estamos estudando Deleuze). Respiração alterada, batimentos cardíacos, fiquei com calor. Algo nasceu ali, se criou, aconteceu (e continuou, continua, está presente, inclusive neste texto). Um encontro? Como se dá? Existe um estado corporal que predispõe os acontecimentos e o nascer de algo? Ou é um susto? Esses estados podem ser ativados? Proporcionados? Buscados? Hoje quero chamar esse exercitar de dança.
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e nessas suas palavras te percebo dançando essa dança que também é um não acontecer. só o permitir-se ouvir e respeitar esses lugares mancha mais inacessíveis, esses estados que param, é um grande aprendizado de escuta e relação. talvez a não produção de algo concreto seja já algo.
ResponderExcluirbom dia.
lu.